O Brasil tem, desde o início de agosto, uma Lei Geral do Hidrogênio Verde. O marco legal estabelece diretrizes para a produção, transporte e uso do H2v. Além disso, trata da forma de certificação de emissões e de incentivos tributários federais para a indústria nascente.
A aprovação e a sanção da lei colocam o País na mesma rota das nações desenvolvidas, que enxergam no H2v uma alternativa viável aos combustíveis fósseis. A oportunidade para a economia brasileira não significa apenas o surgimento de mais uma fonte energética renovável. Neste momento, representa a abertura de condições para concretizar grandes investimentos em parques industriais que estão sendo anunciados desde 2021.
Segundo dados do programa Made in Brazil Integrado (MiBI), vinculado ao Ministério de Minas e Energia, há atualmente 62 projetos para a construção de plantas de industrialização de H2v no País, com um aporte próximo de US$ 70 bilhões. O Nordeste concentra a maior parte dos investimentos privados, com destaque para o Ceará.
Há estimativas que apontam que o Brasil pode produzir 1,8 bilhão de toneladas de hidrogênio verde por ano, mas este volume só seria alcançado em uma década. Antes disso, a produção em escala deve começar a partir de 2027, em uma unidade da australiana Fortescue. Para 2029, é esperada a consolidação de empreendimentos da Casa dos Ventos, AES Brasil, da espanhola FRV, da francesa Voltalia e da Cactus Energy Green.
H2v na América Latina (I)
Em um recente relatório, o Fórum Econômico Mundial (WEF) analisa o potencial de exploração do hidrogênio verde em países da América Latina. O documento cita estratégias e posicionamentos possíveis. O Brasil está classificado entre os “descarbonizadores locais”. Isso significa que o País também pode ser um grande fornecedor de aço, fertilizantes, cimento, combustíveis e outros produtos com baixa intensidade de carbono a partir do uso energético do novo combustível na indústria. Na mesma condição estão Colômbia e México, enquanto Chile e Argentina seriam “exportadores líquidos”. Uruguai e Panamá devem se transformar em “hubs de abastecimento para o transporte marítimo”.
H2v na América Latina (II)
Conforme apurado pelo Fórum Econômico Mundial, o custo de produção de hidrogênio verde nos países latino-americanos está situado atualmente entre US$ 3,70 a US$ 5,90 por quilo, abaixo da média global que vai de US$ 3,80 a US$ 8,50. Especificamente no Brasil, o relatório considera um preço médio entre US$ 2,87 e US$ 3,56, no momento, com perspectiva para chegar em US$ 1,90 até 2030 e em US$ 1,20 até 2050. Argentina e Chile podem alcançar este patamar de custo já em 2030.
Desafios logísticos
O principal desafio do H2v é a logística de transporte. O produto pode ser embarcado na forma gasosa, líquida ou sólida. No primeiro caso, o obstáculo é a pressão necessária para o armazenamento, que torna o processo perigoso. As outras opções exigiriam muito mais energia para fazer as respectivas conversões na origem e no destino, para reverter o processo. Além disso, o estado líquido exige um resfriamento de -253°C.
Choque elétrico
O H2v surge da eletrólise, que simplificadamente é um choque elétrico nas moléculas de água, separando o H do O2. Neste processo, a energia utilizada deve vir de fontes renováveis, certificando que o produto pode receber o selo verde. No caso brasileiro, a escolha do Nordeste para a instalação das maiores geradoras se deve à abundância de vento, para a geração eólica, e de sol.
Descarbonização da Petrobras
No final de 2023, a Petrobras anunciou seu plano estratégico até 2028. Estão previstos US$ 102 bilhões em investimentos. Pouco mais de 10% da cifra (US$ 11,5 bilhões) estão destinados para a descarbonização da companhia. Metade do valor foi reservado para incentivar a geração eólica e solar e esperava-se o surgimento de novos parques geradores no País. Agora, a companhia avisa que pretende virar dona de 3 gigawatts (GW), mas por meio de aquisições e fusões de projetos existentes. Para surpresa de ambientalistas, no curto prazo a estatal não deve agregar nenhum MW novo de energia renovável ao sistema nacional, mas do ponto de vista do negócio poderá relatar seu empenho em descarbonizar suas operações.
Seca amazônica
O governo federal trabalha com a perspectiva de que a estiagem na região amazônica será a mais severa dos últimos 20 anos. O período de seca chegou antes do previsto e mais de 70 municípios já decretaram situação de emergência. O nível dos rios caiu drasticamente. O Solimões atingiu dois centímetros na região de Tabatinga (AM). Em Manaus, o rio Negro chegou na preocupante cota de 22,76 metros, com uma redução de 2,42 metros só em agosto. Historicamente, o pico da vazante na Amazônia é registrado em outubro.
Números do desastre
As maiores seguradoras que operam no Brasil estimam um prejuízo de R$ 120 milhões no desempenho financeiro do setor no segundo trimestre de 2024. O impacto é atribuído ao desastre climático no Rio Grande do Sul. As companhias seguradoras já pagaram prêmios aos gaúchos que somam R$ 461 milhões. Deste total, R$ 349 milhões foram cobertos pelo sistema de resseguro. O setor aéreo projeta perdas ainda maiores neste ano, na casa de R$ 500 milhões, em razão das severas enchentes registradas em maio no RS.
(Foto: Karsten Würth/Unsplash)