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Onde estão os campinhos de terra?

GLENN STENGER CABECA hojesc

Tenho hoje pouco mais de 5 décadas. Para os padrões atuais nem estou tão velho. Mas fico impressionado quando olho para trás e vejo como algumas situações mudaram. E mudaram em muito pouco tempo.

Não se trata de saudosismo. Trata-se de constatação. Quem está mais ou menos na mesma faixa etária que eu e não lembra de tardes, inícios de noite (pois não havia luz artificial) e finais de semana onde a molecada ficava “internada” nos campinhos de terra batida, nas canchas de areia ou até na rua? Nada de estrutura para “bater bola”. Mas muito treinamento diário (mesmo que ninguém percebesse que estava treinando).

Curiosamente o volume de jogadores de destaque que nosso país produziu nessas 3 ou 4 últimas décadas não acompanhou a melhoria de condições para a prática do futebol. Hoje todos têm quadras bonitinhas e bem pintadas, traves com redes, pisos sintéticos que absorvem impactos, etc e etc. Mas não ficam mais o dia todo nesse ambiente, não se aprimoram dia após dia brincando de jogar, não se desafiam diariamente.

Para mim essa equação é muito clara. No momento em que se quebrou a relação prazerosa, de diversão, de ALEGRIA (em letras maiúsculas mesmo) de se estar jogando bola e passou-se a mecanizar o processo, a exigir métodos e processos de crianças (que precisam ter por objetivo central se divertir), quebrou-se a principal engrenagem da fábrica de produção de craques que é o Brasil.

Os meninos hoje se preocupam com os brincos, com os cortes de cabelo, com seus perfis em rede social, com as cores de chuteiras que usarão, quantas calorias devem comer para não passarem do peso. Esses são os moleques que jogam futebol hoje. Estão esquecendo dos conceitos básicos: a técnica, a “malandragem” correta do jogador (não a catimba), o “tesão” de querer estar com um “kichute” na rua jogando uma “pelada” com traves imaginárias feitas de chinelos (possivelmente de algum jogador que tenha a sola do pé mais grossa e jogue descalço).

Não acredito que esse processo tenha reversão. Pelo contrário, só piorará. E isso é muito ruim. A mecanização, a robotização dos nossos meninos, nos fará ver muito menos craques que sabem a essência de jogar bola. Veremos muitos jogadores apenas bons, obedientes taticamente e com físico aprimorado. Isso não tenho dúvida. Mas craques, como tínhamos em abundância, não mais.

Aqui não vou polemizar quanto à personalidade dele. Mas alguém lembra algum outro jogador, na última década, que tenha desempenho técnico ao menos parecido com o de Neymar?? Nenhum! Nem perto! Isso não só exemplifica como também comprova a teoria.

Não teremos mais qualidade em cada esquina. Será quase impossível achar um novo Zico, Neymar, Ronaldo, Rivelino, Rivaldo, Falcão, Sócrates, Ronaldinho, Alex. Na nossa fábrica de atletas o departamento que cuidava dessa parte foi extinto…