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Os Lopes, de novo

ERNANI BUCHMANN CABECA hojesc

Depois de alguns anos, em virtude da pandemia e algumas perdas, os primos Lopes, da descendência de Ernani e Anita Lopes, reuniram-se no último sábado. Considerando que os participantes se dividem entre Curitiba, Joinville, onde nasci, e o litoral catarinense, o encontro se deu, como sempre, no sítio do primo Murilo, nos arrabaldes de Agudos do Sul, local mais ou menos equidistante das respectivas residências. São nove netos, reforçados por seus filhos e genros, além de um e outro amigo de infância.

Três primos chegaram atrasados, já em meio aos trabalhos degustativos, à altura de um cento de cervejas consumidas, mas bastou 15 minutos para que recuperassem o prejuízo. Quanto mais entrosados, mais afinados para contar seus feitos exagerados.

As conversas correram junto ao carneiro assado em fogo de chão. Os causos eram os mesmos, repetidos a cada encontro – esse foi o sétimo ou o oitavo, ninguém tem certeza. Alguns poucos episódios desconhecidos foram incorporados ao repertório do grupo, o que me obriga a relatá-los, inclusive os mentirosos.

Um dos protagonistas lembrou que sua mãe deixou de ter leite, pouco tempo depois de ter-lhe dado à luz. Coube à mulher de um alfaiate amigo suprir a ausência do líquido exigido, ela também mãe recente. Dezesseis anos mais tarde, o rapaz foi levar em casa a jovem filha do casal, sua irmã de leite. Ao ser flagrado pelo alfaiate-pai, foi escorraçado:

– Tu, não. Já mamou na minha mulher, agora pensa que vai mamar na minha filha? Caia fora, namoro de irmãos é pecado!

Na mesma batida, veio à roda o caso do primo descoberto pelos pais na cama da empregada, moça com certa deficiência intelectual. Dr. Murilo, o anfitrião, do alto de seu vasto conhecimento penal, interrompeu o relato:

– Estupro de vulnerável, previsto no art. 217 do Código Penal, pena de 8 a 14 anos de reclusão.

O pretenso réu alegou que ele tinha 12 anos e a moça 15, o que lhe transformava em vítima. Como não houve consenso, o caso corria o risco de ser decidido em júri, não fosse a comprovação de que o feito ocorreu há mais de 60 anos. Estava prescrito. “Ufa”, comemorou o garanhão hoje septuagenário.

Então entrou em cena Paulo Cassou, o maior dos mentirosos da família. No encontro de 2012 ele estranhou minha palidez curitibana e vaticinou breve e definitiva ausência deste primo mais velho nos próximos encontros. Doze anos mais tarde, agradeci a incorreção do prognóstico, já que ele mente bem, mas profetiza mal.

A história que contou é digna do Guinness. Ele e um amigo inscreveram-se para disputar as 24 Horas de Interlagos para motos. Bem treinados, foram para São Paulo sem saber onde ficariam hospedados. Em último caso, dormiriam nos boxes do autódromo. Mas o destino intercedeu: o chefe da equipe, levou-os para o seu/dele apartamento de luxo.

Sabe, o leitor, qual a localização do apartamento? Pois ficava em plena Avenida Vieira Souto. Que, como se sabe, é a rua mais emblemática da praia de Ipanema. No Rio de Janeiro, a 400 quilômetros de distância de Interlagos.

Mesmo com tal impossibilidade geográfica, teriam vencido a prova em sua categoria, se o motor da moto tivesse resistido. Com isso, foi agitada a bandeira quadriculada. Estava encerrada a competição, digo, o encontro dos primos Lopes.

Aguarda-se o próximo, que o mesmo motociclista se propõe a organizar na praia de Itajuba, ali entre Barra Velha e Piçarras. Embora cético, já confirmei minha presença. Mas exigi hospedagem na Avenida Vieira Souto.