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Silvio Santos: lições de Marketing e Empreendedorismo

ANA CLAUDIA WIECHETECK CABECA hojesc

A morte de Silvio Santos, no último sábado, marca o fim de uma era. Poucas pessoas tiveram um impacto tão grande na vida dos brasileiros, seja no meio empresarial, artístico ou principalmente entre o seu público-alvo. Certamente, o seu legado como um dos maiores empreendedores do Brasil permanecerá. Ao analisarmos sua história de vida, vemos que o seu grande sucesso foi fruto não só de muito trabalho, mas também de persistência, talento, inovação e visão de mercado.

No início de sua carreira, Silvio destacou-se rapidamente pela habilidade de comunicação, cativando o público enquanto trabalhava como camelô no Rio de Janeiro. Foi ali que começou a entender o comportamento do seu consumidor e a importância da comunicação eficaz – habilidade que ele não só manteve ao longo da vida, como se tornou referência nela.

Em 1981 quando criou o SBT, trouxe uma nova dinâmica à televisão brasileira. Com uma programação popular voltada para as massas, ele soube como poucos identificar e aproveitar as oportunidades do seu mercado. Sua capacidade de compreender o seu público e atender às suas expectativas foi um fator muito importante nas suas decisões estratégicas. Por exemplo, ao lançar o SBT, ele posicionou a emissora como uma alternativa à Globo, investindo em programas de entretenimento que focavam em famílias de classe média e baixa, um segmento que até então não era muito explorado pela concorrência. Com esta estratégia, ele consolidou fortemente o posicionamento da marca SBT até os dias de hoje.

A identidade que ele criou para o SBT foi totalmente focada na proximidade com o público. Ele se tornou o rosto da emissora, personificando a marca e criando um vínculo emocional com os telespectadores durante décadas. Essa estratégia, na qual a figura do empresário está intimamente ligada à marca, era bastante inovadora na época. Hoje em dia, já vemos muitos empresários se tornando a maior referência visual das suas marcas, uma estratégia que podemos afirmar que Silvio Santos foi um dos pioneiros. Diariamente ele participava da programação do SBT como apresentador contando também com a participação da plateia ou dos telespectadores. Estas ações faziam dele uma figura cada vez mais próxima do seu público, gerando conexão e confiança.
Considerando os concorrentes da sua emissora, o maior deles sempre foi a Rede Globo, No entanto, mesmo enfrentando um gigante do setor, Silvio optou por uma estratégia de competição resiliente, criativa e respeitosa beneficiando os consumidores. Focou em nichos não explorados pela Rede Globo como novelas e séries estrangeiras, além do foco no público infantil. Também investiu em formatos inovadores, como programas de auditório e shows de prêmios que, apesar de simples, tinham forte aceitação dentro do seu público alvo.

No que diz respeito ao branding da marca Silvio Santos, Senor Abravanel foi um mestre em criar e manter essa marca com excelência, muito antes de muitas empresas entenderem a importância do branding. A imagem do “Homem do Baú” não era apenas a de um empresário de sucesso, mas de alguém acessível, com valores sólidos, que compreendia o povo e falava a sua língua. Esse posicionamento fez dele não apenas um ícone da televisão, mas também uma figura de confiança para milhões de brasileiros.

Silvio Santos deixa um legado incontestável e uma capacidade incomum de se conectar com o seu público. Sua história de vida é uma inspiração para empreendedores de todos os setores. Ele mostrou que para ter sucesso não basta apenas o trabalho duro, mas também é preciso satisfazer a demanda do seu público, inovar constantemente para conviver em um ambiente cheio de concorrentes diretos e indiretos mesmo diante dos avanços tecnológicos que modernizaram não só a televisão, mas o setor do entretenimento como um todo, mantendo-se sempre fiel aos seus valores pessoais e profissionais.

Ao longo das seis décadas em que esteve no ar, Silvio Santos criou, inovou, manteve-se firme diante de desafios e fez história. Ele será para sempre lembrado por milhões de brasileiros. A expressão “ninguém é insubstituível” perde seu sentido com a morte dele. Quem poderá substituí-lo à altura em todos os papéis que desempenhou com tanta maestria? Perdemos um ícone da comunicação, do entretenimento e do empreendedorismo, mas ele deixa um legado gigantesco para todos os que o admiravam e que, de alguma forma, podem aprender com sua história.