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GLENN STENGER CABECA hojesc

As Bets estragarão o futebol no Brasil. E quem poderia travar o problema, não vai querer fazer!

O Brasil já é um país que carece de credibilidade. Vemos, dia após dia, as mazelas que os governantes corruptos cometem. Não há limite para a desfaçatez e nem para os valores que querem retirar dos cidadãos normais para colocar em seus próprios bolsos.

Ninguém acredita em ninguém, por melhor que seja a intenção. Sempre há a dúvida sobre quais os motivos que levam esse ou aquele a praticar tal ato ou ação. Todos se perguntam quanto aquela pessoa estará ganhando para levar a frente o que está pensando, quem ela estará enganando e quem poderá ser lesado.

Isso é fruto de séculos de uma “cultura torta” que mostra aos cidadãos que quem faz o errado é “esperto”, que quem engana é “astuto” e que quem faz a coisa certa é “trouxa”.

Trazendo isso para o futebol, já vimos que essa cultura de apostas é nefasta. Tira a credibilidade do jogo e das ações que acontecem durante o jogo. Qualquer falha, nos dias de hoje, suscita a dúvida de que a coisa possa ter acontecido devido à alguma aposta para que ela tenha ocorrido. Futebol não tem normas rígidas de governança.

Os boleiros (nem todos, obviamente) vivem em ambientes e convivem com pessoas que querem se aproveitar daquilo que eles podem trazer. TODOS os casos em que se comprovou algum desvio, estavam vinculados aos “assessores” de jogadores, aos “parças”, aos empresários. E os atletas que, na sua maioria, crescem em famílias que não os preparam, em lugares onde o crime é tratado como “bonito”, caem facilmente nesse tipo de armadilha. Não estou tirando a culpa deles, não é isso. Até porque acredito que o ser humano tem totais condições de ser exatamente o que ele quer ser, de levar consigo os valores que ele acredita como corretos. Mas o ambiente em que eles vivem é totalmente propício aos desvios, e isso é fato.

Cientes de tudo isso, o que precisaríamos fazer para conter essa “praga” que já assola e assolará cada vez mais o nosso futebol? O correto seria não permitir que as apostas existissem. Simples assim. Barrar, travar, extinguir.
Mas aí precisamos lembrar que estamos no Brasil. Não se sabe com toda a convicção, mas atribui-se a Charles De Gaulle, então presidente francês, a frase “o Brasil não é um país sério”. E não é mesmo. Basta abrirmos qualquer noticiário e nos debruçarmos sobre as manchetes do dia e constataremos que aqui o que impera é a “sacanagem”. E sacanagem movida à dinheiro.

Nos primeiros 7 meses de 2025, as Bets (cito somente as legalizadas, pois há um número incontável de outras que vivem pelas sombras), arrecadaram algo em torno de 2,6 bilhões de reais em tributos. Não, o número não está errado! O governo arrecadou esse valor absurdo e projeta fechar o ano com mais de 5 bilhões arrecadados só com as Bets.

Alguém acredita, em sã consciência, que com a sanha arrecadatória que temos no Brasil, necessária para cobrir mazelas, desvios e corrupção, alguém vai querer perder essa arrecadação? Nunca, jamais!

Que se dane o futebol, que se dane a credibilidade no futebol. O que interessa é que ele continue existindo para gerar apostas que sejam tributadas. E que esses tributos fomentem as sacanagens que vemos no dia-a-dia de nosso “maravilhoso” Brasil.

Triste isso. Já falei em colunas anteriores que esse é um problema para a qual eu não vejo solução imediata. Muito mais ainda, alguma solução possível ter que passar pelo crivo de quem não está nem aí para o esporte, para os torcedores, para os clubes.

Você nunca mais poderá assistir à uma partida de futebol tendo a plena convicção de que aquilo que aconteceu durante o jogo foi apenas e tão somente aquilo que deveria ter ocorrido durante os 90 minutos… a suspeita nunca mais sairá de cena.

Leia outras colunas do Glenn Stenger aqui.