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ERNANI BUCHMANN CABECA hojesc

Amaury

Amaury Pasos, falecido na semana passada, foi o maior jogador de basquete brasileiro de todos os tempos. Essa glória pode ser medida pelos títulos que conquistou, incluindo dois campeonatos e um vice-campeonato mundial; duas medalhas olímpicas de bronze e dois títulos de melhor jogador dos mundiais de Santiago e do Rio de Janeiro, em que o Brasil foi campeão. Superou, por uma fictícia cesta, o também lendário Walmir Marques.

Filho de argentinos, nascido em São Paulo, na adolescência Amaury viveu alguns anos na Argentina paterna. Teve a opção de defender a seleção portenha, mas voltou ao Brasil e se transformou em símbolo do basquete nacional. Até poderia ter se dedicado a outros esportes que dominava, como o vôlei e o atletismo, e teria tido sucesso também.

Por volta de 1965, Curitiba recebeu o então grande clássico nacional, Corinthians x Sírio, no ginásio do Tarumã. Amaury tinha deixado o Sírio para compor o excepcional time do Corinthians, com Wlamir Marques, Rosa Branca, Ubiratan e Edward. O Sírio era uma força do basquete internacional, alinhando títulos brasileiros e continentais – depois, chegou a campeão mundial.

O jogo foi equilibrado do início do fim. Faltando alguns segundos, o Corinthians tinha a bola na mão para decidir a partida. Depois do pedido de tempo do treinador Moacir Daiuto, Wlamir bateu o lateral na mão de Rosa Branca, que encestou de fora do garrafão. Final, 66 x 64, com a torcida invadindo a quadra como se estivesse comemorando a conquista de um campeonato.

No meio daquela celebração, encontrei um belo relógio de pulso no chão. Movido pelos princípios éticos que aprendi em casa, procurei um professor de Educação Física do Colégio Estadual, onde eu estudava e que tinha sido o cronometrista do jogo. Relógio mais cronometrista, eis a pessoa ideal para entregar a joia, pensei. Ele que comunicasse o achado pelos alto-falantes, o dono haveria de aparecer.

Passaram-se alguns anos. Certo dia, já cursando a Faculdade de Direito, encontrei o tal professor no ginásio da Sociedade Thalia, arbitrando uma partida dos Jogos Universitários. Perguntei sobre o relógio. Ele lembrava-se bem do episódio.

Havia avisado pelo sistema de som, mas ninguém se apresentou. Assim, depois de algum tempo, tratou de vendê-lo. “Ganhei um bom dinheiro com ele”, disse com um sorriso no rosto.

Pois é, estudante que eu era, sempre com dinheiro contado, perdi uma oportunidade de garantir um reforço no bolso. Mas quem mandou ser correto?

Melhor seguir com a máxima do imortal Caio Soares: “A vida honesta anda difícil; já a desonesta está impossível”.

Mas há controvérsias, como o noticiário policial não cansa de nos alertar.

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