Em todo o mundo, milhões de turistas procuram destinos com águas termais, fenômeno natural que combina relaxamento e propriedades terapêuticas cientificamente comprovadas. Para quem quer curtir, há termas aqui no Paraná, em outros Estados brasileiros e no exterior.
“É uma questão que ultrapassa as culturas, ultrapassa o tempo”, contextualiza o pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e um dos principais estudiosos do termalismo no Brasil, Fernando Hellman. “A novidade, hoje, são as comprovações científicas que, de fato, essas águas tratam algumas doenças e promovem a saúde e o bem-estar”, explica.
O processo geológico responsável pela formação das fontes termais tem início com a infiltração da chuva no solo, que percorre camadas profundas até atingir rochas subterrâneas aquecidas. Posteriormente, essas águas retornam à superfície carregadas de minerais benéficos.
Caldas Novas: maior reserva termal mundial
Caldas Novas, em Goiás, detém o título de maior estância hidrotermal do mundo, com temperaturas que variam entre 30°C e 57°C. A cidade desenvolveu uma infraestrutura para atender diferentes perfis de turistas, o que inclui desde resorts até piscinas gratuitas.
O destino não se limita ao relaxamento: a cidade também é conhecida como destino para famílias e ecoturistas. A região oferece esportes radicais na água e na terra, trilhas e mirantes no Parque Estadual da Serra de Caldas. No Lago Corumbá, um dos principais pontos turísticos, os visitantes podem praticar caiaque, stand up paddle e jet ski. Para famílias com crianças, há parques aquáticos que utilizam as águas termais em brinquedos que atendem todas as idades.
Na mesma região fica Rio Quente, famoso pelas águas termais e resorts.
Olímpia: destaque na América Latina
Olímpia, município a 440 quilômetros de São Paulo, conta com um parque aquático com águas termais que consolidou a cidade como um destino popular. A atração tem 20 piscinas que chegam a 38°C, cercadas por areias brancas e palmeiras, simulando praias.
Poços de Caldas: tradição centenária em Minas Gerais
Pioneira no turismo termal brasileiro, Poços de Caldas foi o primeiro lugar do país a mesclar águas termais com tratamentos de spa, ainda em 1931. A cidade, localizada a 450 quilômetros de Belo Horizonte e 275 quilômetros de São Paulo, é considerada um destino tradicional para luas de mel.
Paraná: destinos a uma curta distância de carro
Na região de Iretama, fica o Jurema Águas Quentes, que traz para seus hóspedes todos os benefícios que este mineral pode oferecer em bem-estar e diversão. Altamente potável, rica em sulfato e emergente a 42º, as águas termais abastecem todo o conjunto de piscinas, chuveiros e torneiras do resort. Também no Paraná, mas em Foz do Iguaçu, as águas termais do Mabu Thermas Grand Resort são naturais do Aquífero Guaraní – a água das piscinas e da praia do Mabu vem das rochas do subsolo. Ela brota da fonte com uma temperatura de 36°C, e carrega alta concentração de compostos minerais, como ferro, potássio e zinco – propriedades terapêuticas que agem no corpo todo.
Lagoa Azul: experiência única na Islândia
A Islândia oferece uma das experiências termais mais únicas: as águas geotérmicas combinam água doce e água do mar em temperaturas agradáveis, cercadas por rochas negras cobertas de neve. A experiência contrasta o calor das águas termais com as baixas temperaturas do ambiente externo, proporcionando sensação única de relaxamento em meio à paisagem ártica.
Japão: tradição cultural em meio a paisagens vulcânicas
Os onsen (águas termais) japoneses representam uma das experiências culturais mais autênticas do arquipélago, combinando relaxamento terapêutico, tradições milenares e paisagens espetaculares. Com mais de 27 mil fontes termais naturais espalhadas pelo país, resultado da intensa atividade vulcânica na convergência de quatro placas tectônicas, o Japão desenvolveu uma rica cultura de banhos termais que perdura há mais de 3 mil anos.
Desde os destinos de Tóquio até os refúgios nas montanhas, os visitantes devem considerar a sazonalidade, verificar políticas sobre tatuagens, fazer reservas com antecedência nos destinos populares e abordar cada onsen com respeito pelas tradições e etiqueta local.
Entre Ríos: capital termal da Argentina
A província de Entre Ríos é considerada a capital termal da Argentina, contando com mais de 16 complexos distribuídos ao longo do rio Uruguai. As águas hipertermais brotam a temperaturas entre 33°C e 42°C, sendo ideais para relaxamento e fins terapêuticos.
Os principais complexos incluem termas que combinam instalações modernas com spa e parque aquático. Outras integram-se ao ambiente natural, oferecendo mais de dez piscinas com diferentes temperaturas. A província tem excelente conectividade pela Rota Nacional 14, com viagem de 3 a 5 horas desde Buenos Aires.
Maravilhas termais para admirar: da Turquia aos EUA
Alguns destinos termais dispensam o mergulho, mas ainda encantam pelo contraste e pela beleza. Na Turquia, o Pamukkale, que significa “Castelo de Algodão”, apresenta terraços de cal formados naturalmente ao longo dos séculos, criando piscinas de água termal azul turquesa. O visual à distância simula formações de gelo glacial, quando na realidade são estruturas calcárias criadas pela deposição mineral das águas termais.
Por questões de conservação e preservação, atualmente não é possível banhar-se nessas termas, mas é possível molhar os pés. A paisagem única resulta da ação contínua das águas minerais sobre as rochas calcárias, processo que continua moldando o local.
Porém, hoje em dia, as piscinas podem parecer mais vazias, principalmente se for época de seca, pois o volume de água depende do período do ano e de condições climáticas. E vale o alerta, que, por ter se popularizado, há muitos turistas, então é difícil conseguir um bom espaço para apreciar sua beleza.
No mesmo complexo de Pamukkale, a poucos metros das termas, situam- se as ruínas de Hierápolis, famosas pela riqueza artística dos túmulos e sarcófagos. A cidade foi, em conjunto com Pamukkale, declarada Patrimônio Mundial da UNESCO, em 1988. Lá podemos encontrar a “antique pool”, piscina que, segundo a lenda, foi a Cleópatra que mandou construir, e banhava-se lá acreditando ser rejuvenescedora. Essa piscina tem um custo para entrada. Os hotéis da cidade também contam com piscinas de águas termais, assim como banho de lama.
Já nos Estados Unidos, o Parque Nacional de Yellowstone abriga a terceira maior fonte termal do mundo. Embora não seja permitido banho, a atração impressiona pela formação de faixas coloridas intensas de azuis, verdes, amarelos e laranjas. O local também tem relevância científica. Nos anos 60, o biólogo Thomas Brock e sua equipe dedicaram-se ao estudo de microrganismos presentes nas fontes termais de Yellowstone, isolando a Thermus aquaticus, uma arqueia capaz de viver em águas com temperaturas de até 100°C. Essa descoberta proporcionou avanços para o campo da engenharia genética.
Benefícios para o corpo humano
Pesquisas da Universidade do Sul de Santa Catarina revelaram resultados sobre águas termominerais com pequenas concentrações de radônio. Os estudos compararam água termomineral com água destilada para avaliar efeitos analgésicos e anti-inflamatórios, demonstrando que animais tratados com água termomineral apresentaram efeito por até cinco horas, contra apenas uma hora com água destilada.
Os minerais presentes, como cálcio, magnésio, sulfato e enxofre, proporcionam benefícios específicos. Para a pele, possuem propriedades anti-inflamatórias que reduzem a irritação, beneficiando pessoas com eczema e psoríase. O sistema respiratório também se beneficia através da inalação de vapores ricos em minerais, aliviando sintomas de asma e bronquite.
Fotos: Divulgação
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