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JAINE VERGOPOLEM

Como sair do clichê nas fotos de final de ano

O fim de ano é um convite irrecusável à celebração. Luzes piscam como constelações desenhadas à mão, a mesa se enfeita com tradições cuidadosamente escolhidas, e os abraços se repetem como mantras de renovação. Mas é fácil cair no conforto do previsível: a árvore de Natal posando ao centro, os sorrisos coreografados diante da ceia, os fogos estampados no céu à meia-noite. Para capturar imagens que transcendam o óbvio, é preciso olhar com mais intenção, como quem desvenda poesia em meio à rotina.

1. Encontre a história no detalhe

Ao invés de buscar o grandioso, aproxime-se do pequeno: a delicadeza do laço desalinhado em um presente, a luz da vela que dança no reflexo de uma taça, ou as mãos que ajeitam os pratos com afeto. Detalhes possuem uma linguagem silenciosa, mas carregada de emoção. São como versos soltos que, juntos, compõem a narrativa única daquele instante.

2. Mude de perspectiva

O clichê reside muitas vezes no ângulo esperado. Ouse mudar o ponto de vista. Agache-se, incline-se ou fotografe de cima. Registre as luzes natalinas como as veria uma criança, fotografe através do vidro embaçado de uma janela ou capture a cena refletida nas superfícies das bolas da árvore. Ao transformar a perspectiva, transforma-se também a essência do registro.

3. Fotografe os bastidores

Nem só de momentos perfeitos se faz o fim de ano. Há beleza crua nos bastidores: a farinha que escapa ao preparar a sobremesa, os olhares cúmplices enquanto os enfeites ganham forma, ou o alívio estampado no rosto de quem terminou de embalar os presentes. Essas imagens, despidas de artifícios, revelam a humanidade que pulsa por trás da celebração.

4. Retrate a beleza do ordinário

Nem toda foto precisa carregar o brilho explícito da festa. Muitas vezes, o espírito do fim de ano está nas pausas entre os eventos: a xícara de café ao amanhecer, o descompromisso de um sofá ocupado após o jantar, ou os papéis de presente largados no chão. São nesses momentos de simplicidade que se encontram os traços mais autênticos do período festivo.

5. Capture movimento e espontaneidade

Troque poses rígidas por cenas em movimento. Registre o girar de um vestido na dança improvisada, o estourar de uma risada ou as mãos que se unem para um brinde. O movimento confere vida à imagem, trazendo uma naturalidade que as poses calculadas não alcançam.

6. Transforme a luz em protagonista

As luzes do fim de ano são mais do que cenário; elas podem ser o coração da foto. Brinque com a contraluz para criar silhuetas, capture o brilho difuso das velas ou explore as sombras desenhadas pelas guirlandas iluminadas. A luz, quando bem explorada, é um pincel que pinta emoções nas fotografias.

7. Construa narrativas visuais

Abandone a ideia de capturar apenas momentos isolados. Pense em sequência, como capítulos de uma história: o preparo da ceia, os abraços à mesa, a casa que aos poucos silencia após a celebração. Essas sequências criam uma narrativa que transcende o instante e revela o ritmo emocional da noite.

8. Encontre o extraordinário no inesperado

Busque o contraste, o inusitado. A parede gasta que enquadra a decoração, o cachorro adormecido no canto da sala, o guarda-chuva esquecido após a chuva. O inesperado é um lembrete de que, mesmo no mais planejado dos momentos, a espontaneidade encontra seu espaço — e é nela que mora a autenticidade.

Sair do clichê é um exercício de sensibilidade e curiosidade. É um convite para enxergar o comum com novos olhos e dar significado ao que parece banal. Fotografar o fim de ano é mais do que capturar imagens; é criar pequenas cápsulas de tempo que, no futuro, serão capazes de trazer à tona não apenas memórias, mas também os sentimentos que as acompanharam. Afinal, mais do que imagens bonitas, o que buscamos guardar são pedaços de vida.

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